sexta-feira, 8 de maio de 2009

Parabéns pelas abóboras!

Quando adolescente não era lá uma grande apreciadora de abóboras. Minha mãe insistia em querer me convencer a comer, usando o argumento de que o alimento fazia bem para a pele e os cabelos. Muitas vezes preparava doce de abóbora com coco na tentativa igualmente frustrada de me convencer.

Parecia que a tal da abóbora estava sempre me perseguindo... Em casa na sopa, doce, pão...Na casa da minha tia também, como se as duas irmãs estivessem combinadas... Na escola então! Toda semana tinha um dia e até dois para bendita abóbora!... Em casa engolia a sopa sempre reclamando, engolia talvez para agradar minha mãe ou simplesmente porque ela me vencia pelo cansaço ou por falta de alternativa mesmo. Na escola, nunca engolia! Nunca!

O fato é que me tornei uma mulher adulta que passou toda a sua adolescência de cara virada para as abóboras. Mas, como “a necessidade faz o monge”, foi só começar a trabalhar fora, muita coisa mudou...O paladar ficou mais apurado. Não havia mãe nem tia por perto e o trabalho me fez descobrir o apetite e a importância de economizar. Tive que admitir que abóboras são saudáveis e faziam bem para o bolso.

Finalmente passei a simpatizar com as abóboras, mas ainda tinha um detalhe que me fazia resistir - Nunca, em tempo algum, vi um alimento tão duro de descascar! Dói até a alma descascar as macias, derretidas e amarelas abóboras das sopas, dos doces, dos sucos... Experimentei descascar todos os tipos que foram aparecendo – de casca branca, grande, pequena, moranga...O peito dói, as mãos ficam vermelhas, doloridas, e não adianta faca amolada!

Só fiquei de bem com as abóboras de verdade quando me tornei professora e fui trabalhar em escola. Por todas escolas em que passei e passo, as abóboras abrilhantam o cardápio da merenda escolar. Estrategicamente desisti de preparar abóboras em casa e desde então as saboreio na merenda escolar, no docinho das cantinas e assim, me dou por satisfeita.

Mas o que eu quero mesmo chamar atenção com toda essa história sinistra de abóboras macias e cascas duras, é que passei a perceber e dar muito mais valor ao trabalho das merendeiras que heroicamente descascam quilos e quilos de abóboras para a felicidade e saúde de todos que passam pela escola. Talvez você nunca tenha pensado nesse detalhe que pode parecer um tanto quanto esquisito, pois para mim as abóboras se traduzem como uma espécie de “ossos do ofício”, e isso não é para qualquer um! Decididamente eu seria uma péssima merendeira. Teria uma carreira relâmpago, desistiria na primeira leva de abóboras. Seria um total fracasso!

Penso e me convenço a cada sopa, da fenomenal paciência, do amor, do sofrimento e da perseverança dessas profissionais isoladas diariamente atrás dos panelões, aventais e toucas, cortando, lavando, escolhendo, picando, mexendo, temperando... No exagero das quantidades e no calor do enorme e assustador fogão industrial. Por tudo isso só me resta dizer a todas as merendeiras escolares, parabéns pelas abóboras!

Ester Costa - Orientadora Educacional
Apreciadora de tudo o que é feito de abóbora desde que não seja eu a pessoa encarregada de descasca-las.
Maio/2009



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